Ao longo das últimas décadas tem-se verificado perda de vitalidade dos sobreiros (Quercus suber), devido a más práticas de gestão, maior ocorrência de agentes bióticos nocivos, alterações climáticas, entre outros. Consequentemente, a produção mundial de cortiça tem vindo a diminuir, tanto em quantidade como em qualidade. Assim, lançou-se o desafio de testar fertirrega de sobreiros, possibilitando a extração precoce de cortiça, sempre respeitando o perímetro legal de desbóia (70cm de perímetro a 1.30m de altura do fuste). A fertirrega poderá melhorar a capacidade de resposta do mercado corticeiro às necessidades da matéria-prima a médio prazo, favorecendo toda a fileira da cortiça, desde os produtores, transformadores e compradores, incluindo o meio rural e os trabalhadores, cuja economia está ligada ao sector. Os ensaios piloto de fertirrega de sobreiros iniciaram-se em 2014 no âmbito do projecto PRODER (Medida 4.1 – Cooperação para a Inovação) denominado REGASUBER “Sobreiros (Quercus suber L.) em modo de produção intensiva e Fertirrega” no qual participaram alguns parceiros desta iniciativa: a Universidade de Évora (UÉ), Fruticor e Amorim Florestal, tendo como objetivo testar a rega mínima que permita valorizar o desenvolvimento e vitalidade dos sobreiros.

O projeto GO-REGACORK pretende dar continuidade aos ensaios piloto e fomentar a transferência de conhecimento para áreas de produção com fins comerciais.

A preservação do sobreiro e do ecossistema de Montado é imprescindível para que possamos continuar a usufruir não só da cortiça produzida mas também de um património valioso para as populações da Bacia Mediterrânica.

Principais Resultados

A iniciativa visou três grandes objetivos, dos quais de apresentam os resultados principais:

(1) Conhecer a possibilidade de antecipar a produção de cortiça em novas plantações de sobreiros com fertirrega, de forma rentável.

Resultados: A fertirrega tem papel crucial no crescimento das árvores durante o verão, mostrando a elevada plasticidade das árvores às condições ambientais. Estas são capazes de  manter o crescimento radial no verão mesmo em condições meteorólogas adversas, como  em dias quentes e secos, desde que tenham acesso a água no solo.

Assim, a promoção do crescimento com recurso à fertirrega mostrou-se eficaz nas condições dos ensaios-piloto, levando à antecipação do primeiro descortiçamento. De facto, o ensaio-piloto Regasuber,  instalado em 2014, tece o descortiçamento iniciado aos 9 anos, em Junho de 2023.

A rentabilidade tem sido analisada utilizando as contas de cultura fornecidas e os dados de crescimento das árvores dos ensaio. Realizaram-se simulações para as várias situações encontradas, uma vez que a maior parte dos ensaios ainda não entrou na fase de produção. As simulações indicam boa rentabilidade em determinadas condições edofoclimáticas, variando conforme o valor da cortiça, dos custos iniciais e de manutenção.

(2) Avaliar o efeito da fertirrega na formação, produção e qualidade da cortiça utilizando para isso plantações já existentes com sobreiros adultos ou em situação pré-desbóia.

Resultados: As análises preliminares da cortiça resultante dos ensaios em fertirrega não mostrou diferenças significativas relativamente à densidade, mas detetou diferenças ao nível da porosidade e da espessura das paredes celulares. Estas diferenças, após o tratamento em fábrica, não retiraram qualidade à cortiça para a produção de rolhas naturais. No entanto, esta análise é exploratória, pois são necessárias mais amostras de outros ensaios, por forma a introduzir mais árvores com outro material genético e noutras condições edafoclimáticas que possam influenciar as características da cortiça.

(3) transferência de conhecimento para a instalação de novos povoamentos de sobreiros com fertirrega.

Resultados: Dentro o projeto, o conhecimento foi transferido dos ensaio-piloto para os ensaios com fins comerciais. Adicionalmente, foram realizadas parcerias fora do G.O. para instalação de novas áreas de sobreiro com fertirrega.

A equipa líder desenvolveu um projeto para o Alentejo2020 totalmente direcionado para a divulgação destes resultados, o RegaCork-TraDE.

Cooperação Transnacional

Através do protocolo com o Centro de Investigaciones Científicas y Tecnológicas de Extremadura (CICYTEX), proporcionou-se a participação como consultores no G.O. Fertirriego, Extremadura, Espanha, onde se instalaram 4 áreas com fertirrega de sobreiros, cada uma com características únicas, e foram testadas novas metodologias de descortiçamentos, contribuindo-se para o aumento e disseminação do conhecimento relativo à fertirrega de sobreiros.

Apreciação global

No âmbito deste projeto foi possível atingir os objetivos visados, resultado da boa execução e interligação das tarefas propostas.

Considera-se elevado grau de viabilidade e implementação de novas plantações de sobreiros em fertirrega desde que se verifiquem as condições necessárias inicialmente previstas, como acesso a água de superfície (zonas limítrofes de agricultura de irrigação) e condições edafoclimáticas favoráveis. O projeto, com o financiamento concluído em 2022, tem sido continuado através de contratos-parcerias e outros financiamentos, mantendo-se a monitorização dos ensaios envolvidos e a consolidação do conhecimento, o que indica o sucesso deste Grupo Operacional.